As demandas russas sobre a sua segurança geopolítica nunca foram levadas em consideração tanto por Washington quanto por Bruxelas ao longo das últimas três décadas. Pelo contrário. Europeus e estadunidenses fizeram o possível para expandir a União Europeia e a Otan para o Leste Europeu ao mesmo tempo em que Moscou sempre demonstrava o seu descontentamento com tal avanço.
Na verdade, a Rússia sempre representou um perigo geopolítico para Washington por sua capacidade militar e tecnológica herdadas da URSS. A Rússia “ideal” para o Ocidente só ocorreu sob a liderança de Boris Yeltsin (1991-1999) quando o país fez a transição para o capitalismo de uma maneira totalmente abrupta passando por uma de suas piores crises econômicas e sociais da história. Uma Rússia dependente economicamente, fraca militarmente e com um governo pró-Ocidente sempre foi o cenário desejável para os EUA. Contudo, a situação mudou drasticamente com a ascensão ao poder de Vladmir Putin nos anos 2000.
A recuperação econômica e geopolítica ao longo do tempo, recolocou o país no jogo internacional com a recuperação dos interesses estratégicos da Rússia enquanto herdeira geopolítica da URSS. O “fim” da tolerância russa à expansão Ocidental em direção de suas fronteiras teve início com a retomada da Crimeia em 2014 sob olhares atônitos de europeus e estadunidenses.
A movimentação de Kiev na direção da União Europeia e da Otan acelerou a determinação de Moscou em encerrar definitivamente pela via bélica, o capítulo ainda aberto após fim da URSS: a sua segurança geopolítica, bem como a utilização da Ucrânia por Washington como uma futura base militar da Otan contra o país. A segunda invasão à Ucrânia em fevereiro de 2022 marcou em nossa concepção essa segunda fase.